A queda

A partir do quadro São Jorge e a princesa (c.1436-1438), de Antonio Pisanello

Dois homens pendurados, fica a queda –
no azul bem desenhada sobrevive.
A carne esvaziada ainda pesa –
carrega o resto de quem já não vive.

O gesto inerte, os pés, mãos amarradas
e no pescoço o aperto de uma corda.
Sem ar, sem luz no olhar, sem ser mais nada –
do peso desse sono não se acorda.

E eles dormem, homens apagados.
Pagaram caro, com o claro o escuro.
A pele esquece os poros e o passado,
suor, calor e frio, a dor (futuro).

Só fica a queda, sem chegar ao chão –
final, mas incompleta, presa ao ar,
entregue ao tempo, sempre, eterno não,
por dentro de dois homens – sem calar.