E Paris me pariu

Para me receber,
Paris, às avessas, me pariu.
Mas o seu útero era frio.
Penetrei-a de corpo e alma.
Seu frio me deu na cara um tapa.
Até então Paris não era
mais que um ponto no mapa.

Eu era um ponto sobre Paris.
Meu cordão umbilical se prendia ao seu umbigo
e eu lhe entregava meu olhar de recém-nascido.
Morrer passava a ser renascer.
Eu renascia em outro lugar.
E nada mais seria como antes,
em outros tantos muitos instantes,
pois Paris não é Periperi
e Periperi não é Paris.

Meus pés a pisavam suavemente
à procura de um caminho.
Tudo em mim, nesse momento,
era uma forma de carinho.
Por Paris eu caminhava
e ao caminhar
a acarinhava.
E Paris me carregava.
Eu era um fruto na barriga
de uma árvore parida.

Paris me paria pelo avesso.
Entranhando-me às suas vísceras,
penetrei-a de corpo e alma.
Ao seu frio,
eu dava minha cara a tapa.
E Paris jamais seria
um mero ponto no mapa.