Les trois oiseaux / Os três pássaros

Les trois oiseaux

L’oiseau de fer, l’oiseau d’acier,
après avoir lacéré les nuages du matin
et voulu picorer des étoiles
au-delà du jour,
descend comme à regret
dans une grotte artificielle.

L’oiseau de chair, l’oiseau de plumes
qui creuse un tunnel dans le vent
pour parvenir jusqu’à la lune qu’il a vue en rêve
dans les branches,
tombe en même temps que le soir
dans un dédale de feuillage.
Celui qui est immatériel, lui,
charme le gardien du crâne
avec son chant balbutiant,
puis ouvre des ailes résonnantes
et va pacifier l’espace
pour n’en revenir qu’une fois éternel.

Os três pássaros

O pássaro de ferro, o pássaro de aço,
depois de rasgar as nuvens da manhã
e ter desejado bicar estrelas
para além do dia,
desce assim, sem vontade,
a uma gruta artificial.

O pássaro de carne, o pássaro de penas
que cava um túnel no vento
para alcançar a lua por ele vista em sonho
entre os galhos,
cai ao mesmo tempo que a tarde
num labirinto de folhagem.

Aquele que é imaterial, ele,
enfeitiça o guardião do crânio
com o seu canto balbuciante,
depois abre asas ressonantes
e vai pacificar o espaço
de onde só volta uma vez eterno.