O verdadeiro dono

Vão-se os dedos,
ficam os anéis,
passando de mão em mão –
tochas de um antigo fogo
furando a flor do futuro
em mãos de atletas efêmeros.

Vão-se os dedos,
ficam os anéis,
a adornar novos dedos,
de donos que não os possuem
(ter é tomar emprestado).

Por mais que o possuir pareça eterno,
tudo não passa de um abraço –
nada é nó, tudo é laço;
toda posse passa.

E nesse processo contínuo,
entre doações e perdas,
são aros varando eras,
ciclos em volta do ciclo
da carne cansada que murcha,
mas se reinventa incessante.

Nada cria raízes.
Às pressas ou aos poucos,
tudo nos vem arrancado
e é devolvido ao nada,
seu verdadeiro dono.

E, sem nada,
nós,
sem nada,
somos também devolvidos,
caindo como camadas
no nada
(do nada ao nada).