Sobre ontem à noite

Na noite de ontem fui de encontro à tua ausência –
o frio noturno estava dentro de mim.
Atravessei o tempo até chegar à tua casa,
joguei teu nome ao vento, como quem lança pedras,
mas o peso de palavras não arrebenta vidros.
Embacei o vidro com o vapor de minha voz.
Sussurrei segredos, quase em silêncio,
mas o silêncio do teu quarto não me disse nada.
Arranhei com raiva as veias do vidro
com a ponta da chave de um carro emprestado.
Arrastei meus dedos, quase sem barulho,
sobre a transparência da pele do vidro
e deixei impressas minhas digitais,
como se sangrassem de tão grande dor.