A vasilha da barriga de minha mãe
Ao nascer, minha irmã mais velha
esvaziou a vasilha
em que minha mãe a preparava.
Minha mãe, em seguida, parou
e me preparou,
me fez a mim como eu sou.
Feito, eu, seu único filho,
ao nascer, esvaziei a vasilha
para que se fizesse sua última filha.
Minha irmã mais nova foi a última da fila
e completou a família,
esvaziando de vez a vasilha –
vasilha onde o princípio de nós adormecia,
enquanto nossa mãe nos aquecia
numa espécie de calor em banho-maria.
Hoje, só uma cicatriz,
que servindo de tampa
mancha e tranca
a barriga onde a vasilha se encontra –
vasilha já há muito tempo vazia…
Mas as paredes daquela vasilha,
em que nos fizemos antes de sermos,
não se esvaziaram de todo,
pois o amor de nossa mãe vem das entranhas,
nasceu muito antes de nascermos
e por nossas entranhas deve ter entrado
e deverá ir conosco
até que tenhamos passado para o outro lado.
Ou talvez mais além,
muito além do futuro,
pois muito antes do passado.