Le poème / O poema
Paroles pour chant, dis-tu, paroles pour chant,
ô langue de mes morts,
paroles pour chant, pour désigner
les idées que l’esprit a depuis longtemps conçues
et qui naissent enfin et grandissent
avec des mots pour langes —
des mots lourds encore de l’imprécision de l’alphabet,
et qui ne peuvent pas encore danser avec le vocabulaire,
n’étant pas encore aussi souples que les phrases ordonées,
mais qui chantent déjà aux lèvres
comme un essaim de libellules bleues au bord d’un fleuve
salue le soir.
Paroles pour chant, dis-tu, paroles pour chant,
paroles pour chant, pour désigner
le frêle écho du chant intérieur
qui s’amplifie et retentit,
tentant de charmer le silence du livre
et les landes de la mémoire,
ou les rives désertes des lèvres
et l’angoisse de cœurs.
Et les paroles deviennet de plus en plus vivantes, ténues,
que tu croyais en quête du Chant;
mais elles deviennent aussi de plus en plus fluides et
comme cette brise qui vient des palmiers lointains
pour mourir sur les cimes sourcilleuses.
Elles deviennent advantage des chants,
elles deviennent elles-mêmes — ce qu’elles ont toujours été
jusqu’ici, en vérité.
Et je voudrais changer, je voudrais rectifier
et dire:
chants en quête de paroles
pour peupler le silence du livre
et planter les landes de la mémoire,
our pour semer de fleurs aux rives désertes de lèvres
et délivrer les cœurs,
ô langue de mes morts
qui te modules aux lèvres d’un vivant
comme les lianes qui fleurissent les tombeaux.
Palavras para o canto, dizes, palavras para o canto,
oh língua de meus mortos,
palavras para o canto, para designar
as idéias que o espírito concebeu há muito tempo
e que finalmente nascem e crescem
tendo palavras como primeiros panos —
palavras ainda pesadas da imprecisão do alfabeto,
e que ainda não podem dançar com o vocabulário,
não sendo ainda tão flexíveis quanto as frases ordenadas,
mas que já cantam aos lábios
como um enxame de libélulas azuis à beira de um rio
saudando o entardecer.
Palavras para o canto, dizes, palavras para o canto,
palavras para o canto, para designar
o frágil eco do canto interior
que se amplifica e ressoa,
tentando seduzir o silêncio do livro
e as zonas áridas da memória,
ou as margens desertas dos lábios
e a angústia dos corações.
E as palavras se tornam cada vez mais vivas, tênues,
as palavras que supunhas em busca do Canto;
mas tornam-se também cada vez mais fluidas e
parecendo essa brisa que vem de palmeiras longínquas
para morrer sobre os cumes altivos.
Tornam-se mais que cantos,
tornam-se elas mesmas — aquilo que sempre foram
até aqui, de fato.
E eu gostaria de corrigir, eu gostaria de retificar
e dizer:
cantos em busca de palavras
para povoar o silêncio do livro
e plantar as zonas áridas da memória,
ou para lançar flores, enfeitando as margens desertas dos lábios
e libertar os corações,
oh língua dos meus mortos
que te modulas aos lábios de um vivo
como as lianas que floreiam os túmulos.