Passeando invisível
Na Bahia ainda era noite,
em Londres já amanhecia,
de dentro da noite o dia saía,
e ainda era noite adentro na Bahia.
Por Londres eu saía,
por suas ruas vazias.
Londres então era só minha.
Naquelas horas primeiras,
Londres a mim se dava inteira.
Eu me entregava aos seus cuidados,
ao seu corpo de cidade.
E a sua aura, tão fria,
pairava sobre a minha.
Mas o meu olhar olhava o longe,
além, muito além de Londres,
além dos limites do mar,
além do alcance do meu olhar.
Os meus olhos acordados
não viam aquilo que eu via,
e eu passeava invisível
pelas ruas da Bahia.
Sabendo ve no escuro,
como um noturno vigia,
eu percorria o seu sono,
e de mim ninguém sabia.
Era noite na Bahia,
em Londres já era dia.
O que eu era, só eu era,
e mais ninguém seria.