Talvez arte
A partir do quadro Bolhas de sabão (c.1734), de Jean Siméon Chardin
É no balcão que brinca esse menino:
canudo e boca (sopro), água e sabão.
Na tez que aqui se estica, o frágil (o fino)
se infla, faz-se esfera e deixa o chão.
E a água voa solta pelo espaço,
leve, lavada, livre, vai subindo.
Flutua à toa sem rumo e sem traço
de leito onde se deite e vá seguindo.
Deixa levar-se e a pele transparente
se empresta inteira ao fluxo que passa.
Na curvatura (arco), o iridescente
reflexo – a mistura se entrelaça.
Mas nunca dura e a pele-espelho parte,
sem rastro da pintura, talvez arte.