Navio de várias árvores
Já sei que jamais serei um perfeito poliglota.
Tampouco poderei tentar a viagem de volta.
O princípio da pátria passou.
Estou no meio do mundo.
Sou cidadão de cidades.
Melei-me na lama de muitos idiomas.
Minha língua-mãe me lambe,
mas já não me lava
da lava de palavras que me levam…
E minha Babel não desaba.
Grande mundo mangue!
Sigo atravessando sons ancestrais,
que seguem
sem saliva, sem sangue,
soltos,
em solitários sopros,
de boca em boca.
Assim beijo fluxos –
chamas de riscos acesos
dentro da noite dos homens.
E o incêndio não cessa,
por mais sujo o som;
rios de raízes em flamas
fincam no crânio suas âncoras
e ficam
rasgando os lençóis subterrâneos
suspensos no caos do cérebro.
Sou tronco cheio de enxertos –
navio de várias árvores.