Palavra morta

Mãe, palavra morta na boca que canta
a vida que vai. E vou enterrando-a em mim,
no mínimo e no mais: na água que bebo, no
medo que molho, no sangue que segue sendo
o que sou, no soar do meu escuro, no puro
aroma do podre, nos cabelos que se acalmam
em claro, no olhar que vai longe, mas volta
vermelho, no grave agudo da voz, na pele
que se parte, na arte que tento, no lento
silêncio que late no centro da noite que cai
e apaga as palmas das mãos que aplaudem,
escrevem e morrem, como tudo mais.